Sistema Eletrônico de Administração de Conferências, 1º SIMPÓSIO CATARINENSE DE PECUÁRIA DE LEITE A BASE DE PASTO

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CARACTERIZAÇÃO MICROBIOLÓGICA DA SILAGEM DE BAGAÇO DE MAÇÃ
João Frederico Mangrich dos Passos, Sandra Denise Camargo Mendes, Vanessa Ruiz Favaro, Cristiano Nunes Nesi

Última alteração: 2023-10-19

Resumo


Introdução: O Brasil é um país de intensa atividade agrícola e grande gerador de resíduos agroindustriais. O acúmulo desses resíduos causa impactos econômicos e ambientais, porque exige gasto de energia para o transporte até aterros sanitários, ou quando isso não é possível, ficam estocados próximos às indústrias, ocasionando eventuais problemas sanitários e ambientais, visto que produzem gases e liberam substâncias que promovem contaminação do lençol freático. O estado de Santa Catarina é o maior produtor de maçã do país, com média de 600.000 toneladas anuais (Epagri/Cepa, 2018) o processamento da fruta resulta na produção do bagaço da maçã, que equivale a 25% do peso da fruta e apresenta baixo valor comercial devido ao seu reduzido teor proteico. Uma das alternativas para utilização do bagaço de maçã é a alimentação de ruminantes, contudo, na maioria das vezes, esse resíduo é estocado nas propriedades de forma descontrolada e ao ar livre, gerando perdas no valor nutricional, resultado do armazenamento de forma incorreta.O uso de resíduos gerados pelas agroindústrias na alimentação animal, contribui para redução dos custos e melhora o aspecto ambiental, pois dá destinação a materiais que seriam descartados. O principal entrave para utilização do bagaço de maçã é o alto teor de umidade. Dessa forma os métodos de conservação, para esse resíduo, devem ser empregados. Com o objetivo de avaliar a conservação do bagaço de maçã na forma de silagem através da pré-secagem e utilização de aditivos sequestrantes de umidade. E avaliar o fornecimento da silagem do bagaço de maçã para bovinos de corte em fase de terminação. Para tanto conduziu-se um experimento na Estação Experimental de Lages (EEL), onde o bagaço de maçã in natura foi fornecido por uma empresa comercial. Confeccionou-se dois silos experimentais. Um com bagaço de maçã puro e outro com uma mistura do bagaço de maçã com o aditivo (farelo de soja). O teor de matéria seca do bagaço de maçã in natura no momento da aquisição e após a pré-secagem e mistura com o aditivo foi estimado pela técnica do forno micro-ondas adaptada de SILVA E QUEIROZ (2006). O método de pastejo adotado será o contínuo com lotação variável, usando-se a técnica put and take (MOTT & LUCAS, 1952), com três animais testers por unidade experimental e um número variado de animais reguladores por tratamento, procurando manter a massa de forragem disponível próxima a 1.200kg/ha de MS. Material e métodos: para a avaliação da silagem do bagaço de maçã realizou-se um experimento conduzido na Estação Experimental de Lages (EEL), o bagaço de maçã in natura foi fornecido por uma empresa comercial. Confeccionou-se a silagem em dois silos experimentais. Um com bagaço de maçã pura e outro com a mistura de bagaço de maçã mais o aditivo (farelo de soja). O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado com medidas repetidas no tempo. Foram avaliados dois tratamentos: 1) silagem de bagaço de maçã pré-secado; 2) silagem de bagaço de maçã com farelo de soja; Utilizou-se três repetições para cada tratamento e coletados em sete épocas diferentes, totalizando 21 repetições por tratamento. A Confecção de silagem para o tratamento de pré-secagem o bagaço de maçã foi distribuído sobre uma lona, em uma camada de aproximadamente 5 cm, mantido em local coberto durante todo o período até atingir entre 30 e 35% de matéria seca. Para os tratamentos com o aditivo sequestrante de umidade o ingrediente foi adicionado e homogeneizado ao bagaço até atingir o teor de matéria seca preconizado. A Contagem microbiológica das amostras coletadas foi utilizada para identificação e contagem dos principais microrganismos que se desenvolveram nas silagens, de acordo com JOBIM et al. (1999). O preparo das amostras para análise microbiológica consistirá na colocação de 100 g de silagem em 900 mL de solução salina (8,5 g de NaCl/litro de água destilada) para obtenção dos extratos diluídos e posteriores semeaduras nos meios específicos para cada microrganismo estudado. Na avaliação de desenvolvimento de bactérias ácido lácticas o meio de cultura será Lactobacilli MRS Broth (Difco) e as placas serão incubadas a 30 ºC por três dias (JONSSON, 1991). Man, Rogosa e Sharpe (MRS) agar e Potato Dextrose Agar (PDA) sem antibióticos serão usados para contagem de bactérias ácido láticas (BAL). A diferenciação das BAL em homofermentativas e heterofermentativas, será de acordo com McDONALD et al. (1987), as culturas serão incubadas a 30 ºC por três dias. Para a presença de clostrídeos o meio de cultura será Reinforced Clostridial Agar (Oxoid Ltd.), com posterior incubação a 30 ºC por quatro dias. Na avaliação do desenvolvimento de leveduras e fungos, as amostras serão semeadas e incubadas (30 ºC/3 dias) em meio Malt Extract Agar (Oxoid Ltd.) acidificado com ácido lático para a obtenção de pH 4,0, segundo TENGERDY et al. (1991). A diferenciação entre leveduras e fungos será feita pela estrutura física das colônias. Para determinação do desenvolvimento de enterobactérias nas silagens, será utilizado o meio de cultura Violet Red Bile Agar (Oxoid Ltd.), com incubação por três dias em temperatura de 35 ºC. Utilizando o software R (R team core 2013) os dados coletados serão submetidos à análise homogeneidade de variância (teste de bartlett) e normalidade dos resíduos (test de shapiro-wilk). Será realizada análise de variância (aov procedure) e, quando constatados efeito significativo dos tratamentos (P<0,05), as médias serão comparadas pelo teste de Duncan. Conforme mostra a tabela 1, o tratamento bagaço de maçã associado com farelo de soja favoreceu uma maior quantidade de UFC do que no tratamento com bagaço de maçã puro. Isto possívelmente se deu pela presença do farelo de soja fornecendo um composto mais proteico e mais enriquecido nutricionalmente, estimulando um crescimento maior de bactérias ácido láticas. Já para as análises do crescimento de células clostridiais em meio específico, tabela 2, no tratamento bagaço de maçã com farelo de soja, não observou-se diferenças estatísticas na contagem de UFC. No entanto, no tratamento com bagaço de maçã puro observou-se que houve uma queda na contagem de UFC na metade do período do uso do silo, voltando a apresentar quantidades de UFC semelhantes ao início do ciclo do uso do silo. Observou-se que na formulação de bagaço de maçã com farelo de soja, foi onde houve maior contagem de crescimento de bolores e leveduras. Principalmente, mais para o ciclo final das coletas e uso do silo (tabela 3). Já para a contagem de enterobactérias não houve diferença significativa entre as formulações de silo testadas, conforme tabela 4. Porém contagens de unidades formadoras de colônias se deram no período entre outubro e novembro, segunda metade do período de tempo em que os silos ficaram em uso. Dados corroboram para uso não muito prolongado pois ao abrir um silo, comunidades microbianas não desejadas podem se multiplicar com a aeração ocorrida em silo aberto. A melhor formulação para a alimentação animal tanto nutricionalmente como microbiologicamente foi a com bagaço de maçã adicionado farelo de soja onde a contagem de microrganismos maléficos foi menor e a fermentação desejada de bactérias BAL se deu em maior quantidade.






Palavras-chave


Microrganismos fermentativos; nutrição animal; resíduo agroindustrial

Referências


EPAGRI-CEPA. Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina – 2017/2018. Florianópolis: Epagri/Cepa, 2018. 206p.

 

JOBIM, C.C.; REIS, R.A.; SCHOCKEN-ITURRINO, R.P.; ROSA, B. Desenvolvimento de microrganismos durante a utilização de silagens de grãos úmidos de milho e de espigas de milho sem brácteas. Acta Scientiarum, v 21, n.3, p.671-676, 1999.

 

McDONALD, L.C.; McFEETERS, R.F.; DAESCHEL, M.A.; FLEMING, H.P. A differential medium for the enumeration of homofermentative and heterofermentative lactic-acid bacteria. Appl. Environ. Microbiol., 53(6):1382-1384, 1987

 

MOTT, G.O.; LUCAS, H.L. The design, conduct and interpretation of grazing trials on cultivated and improved pastures. In: INTERNATIONAL GRASSLAND CONGRESS, 1952, Pensylvania. Proceedings... Pensylvania: State College Press, p.1385. 1952.

 

SANTOS, M.C.; NUSSIO, L.G.; MOURÃO, G.B. et al. Influência da utilização de aditivos químicos no perfil da fermentação, no valor nutritivo e nas perdas de silagens de cana-deaçúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.9, p.1555-1563, 2008.

 

SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. 3ed. Viçosa: UFV, 2006. 235p.

 

TENGERDY, R.P.; WEINBERG, Z.G.; SZAKACS, G.; LINDEN, C.J.; HENK, L.L. Ensiling alfafa with additives of lacticacid bacteria and enzymes. J. Sci. Food Agric., 55(2)215228, 1991.



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